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Vivemos em uma sociedade que nos define pelo ter, pelo possuir. Somos o que temos e o que consumimos, a identidade pessoal e o equilíbrio mental se ancoram no ”ter”.

Uma das características mais apontadas como a marca da “pós-modernidade” localiza-se justamente no desejo socialmente expandido da aquisição do supérfluo, do excedente, na insaciabilidade, na constante insatisfação. Uma necessidade satisfeita gera quase automaticamente outra necessidade, num ciclo que não se esgota, num continuum onde o final do ato consumista é o próprio desejo de consumo.

Chegamos a um ponto em que nem sequer nos damos conta de quanto o consumismo interfere nas nossas escolhas e na nossa vida social, substituindo as necessidades ditadas pelo bom senso por um artificial e insaciável impulso de possuir coisas que somos “levados a desejar”. Eleito símbolo de status, o consumismo nos leva a comprar objetos não pela necessidade e, muitas vezes, nem sequer pelo prazer de usá-los, mas pelo que representam. Somos impelidos a renunciar ao que já temos, e que até ainda nos serve, porque já surgiu uma novidade que “não podemos não ter”.

O consumo, como estilo de vida e novo valor ético, é o que determina não só o ter como o “aparecer”. Quanto mais consumimos, mais nos mostramos aos outros consumidores, mais aparecemos como “normais”. Quem não consome, quem se apega a um celular de dois anos atrás, quem não se converte ao digital, quem não atualiza rapidamente o guarda-roupa conforme os ditames da última moda é, no mínimo, “esquisito”. A sociedade do consumo referenda, portanto, uma nova “normalidade”, uma nova forma de cidadania, na qual os sinais de “pertencimento” não são dados pelo compartilhamento de direitos e deveres, mas sim pelo grau de consumo.

Mas o que nos levou a isso? Onde teve origem esse mecanismo perverso?