Ultraprocessados e inflamação silenciosa
Nos últimos anos, a alimentação tem passado por grandes transformações. Com a vida corrida, muitas pessoas buscam praticidade e acabam recorrendo a produtos prontos para o consumo: biscoitos recheados, refrigerantes, embutidos, macarrão instantâneo, salgadinhos e comidas congeladas. Esses alimentos são conhecidos como ultraprocessados, e embora sejam convenientes e saborosos, escondem riscos importantes para a saúde, especialmente por estarem ligados a um fenômeno chamado “inflamação silenciosa”.
A inflamação é uma resposta natural do corpo a agressões, como infecções ou ferimentos. No entanto, quando ela ocorre de forma crônica e sem sintomas evidentes, recebe o nome de inflamação silenciosa ou subclínica. Esse tipo de inflamação, mesmo discreta, pode permanecer por anos e está associada a doenças graves, como diabetes tipo 2, obesidade, doenças cardiovasculares, câncer e até depressão.
Mas qual é a relação entre os ultraprocessados e essa inflamação? A resposta está nos aditivos químicos presentes nesses produtos. Para garantir sabor, textura, cor e maior tempo de prateleira, a indústria alimentícia adiciona diversas substâncias artificiais, como emulsificantes, corantes, aromatizantes e conservantes. Embora sejam aprovadas para consumo em pequenas quantidades, o problema surge com o consumo diário e cumulativo desses compostos.
Os emulsificantes, por exemplo, são usados para misturar ingredientes que normalmente não se combinam, como água e óleo. Eles estão presentes em sorvetes, maioneses, molhos prontos e pães de forma. Estudos recentes mostram que alguns emulsificantes podem alterar a microbiota intestinal — o conjunto de bactérias “boas” que vivem no intestino — e provocar aumento da permeabilidade intestinal, permitindo que toxinas passem para a corrente sanguínea e ativem o sistema imunológico de maneira constante. Essa ativação contínua é uma das causas da inflamação silenciosa.
Os corantes artificiais também merecem atenção. Utilizados para deixar os alimentos visualmente mais atraentes, eles não trazem nenhum benefício nutricional. Pelo contrário, podem causar reações alérgicas, hiperatividade em crianças e desequilíbrio na flora intestinal, além de contribuir indiretamente para o processo inflamatório.
Outro grupo importante são os conservantes e aromatizantes, usados para aumentar o tempo de validade e intensificar o sabor. Muitos desses aditivos fazem o cérebro associar o produto a prazer e bem-estar, o que favorece o consumo excessivo e, consequentemente, o ganho de peso e a resistência à insulina — dois fatores fortemente ligados à inflamação crônica.
Vale lembrar que o problema dos ultraprocessados não está apenas nos aditivos, mas também no baixo valor nutricional. Eles costumam ser ricos em açúcares refinados, gorduras ruins e sódio, e pobres em fibras, vitaminas e minerais. Essa combinação desequilibra o metabolismo e favorece o acúmulo de substâncias inflamatórias no organismo.
Felizmente, é possível reverter esse quadro com mudanças simples nos hábitos alimentares. Priorizar alimentos in natura ou minimamente processados — como frutas, verduras, legumes, grãos integrais, carnes frescas e oleaginosas — é o caminho mais seguro para reduzir a inflamação silenciosa. Preparar as refeições em casa e ler os rótulos dos produtos também ajuda a evitar o consumo de ingredientes artificiais desnecessários.
Em resumo, os ultraprocessados são convenientes, mas seu consumo frequente pode ter um alto custo para a saúde, principalmente por estimular uma inflamação constante e invisível. Ao compreender o papel dos aditivos, emulsificantes e corantes nesse processo, cada pessoa pode fazer escolhas mais conscientes e proteger seu corpo de doenças silenciosas, mas perigosas. Afinal, a verdadeira praticidade está em cuidar bem de si mesmo, começando pelo que colocamos no prato.